Quando comecei a participar do Clube de Leituras “Os Pensadores”, o livro em questão era Sincronicidade, de Carl Jung. Embora fosse uma leitura fascinante, não era nada fácil. Ainda assim, fiquei encantada com a possibilidade de explorar temas como os sonhos lúcidos (aqueles em que estamos conscientes de que estamos sonhando e podemos controlá-los), as sincronicidades e várias outras técnicas.

Comecei a ficar mais atenta a esses eventos — as pequenas coincidências que ocorrem no nosso dia a dia. Passei a notar que elas realmente existem e são muitas! Minha mente, treinada por tanto tempo para pensar de forma lógica e sistemática, quase não acreditava.

Um dia, estava pensando em um amigo que não via há muito tempo e, de repente, ele me mandou uma mensagem ou ligou. Em outro momento, comecei a cantarolar uma música dos anos 80 que não ouvia havia muito tempo. Fiquei com a canção na cabeça o dia todo e, quando entrei no carro e liguei o rádio, a música começou a tocar. Fiquei tão entusiasmada que cantei junto, aos berros — mal podia acreditar naquilo!

Apesar de tudo, eu ainda duvidava da tal sincronicidade. Persistia em mim a visão positivista das coisas, do mundo como algo material, mensurável, testável e comprovável.

Até que um dia, uma experiência me fez não ter mais como duvidar…

Na noite de uma sexta-feira para sábado, após uma semana normal e atarefada, finalmente tive o merecido descanso. Esperava dormir até mais tarde e aproveitar a cama, mas um sonho muito real, vívido e perturbador me fez acordar muito antes do previsto, sentindo-me exausta e assustada pela nitidez do conteúdo.

No sonho, eu estava sozinha, embarcando em um avião para o Brasil. Era um voo de urgência e eu precisava visitar minha família para apoiá-los, pois havia ocorrido uma verdadeira catástrofe climática, uma tempestade de magnitude gigantesca, nunca antes registrada, que destruíra boa parte do país.

Angustiada, eu via pela janela do avião o rastro de destruição: lama por toda parte, casas desmoronadas, automóveis revirados — uma verdadeira tragédia. Aquilo me deixava ainda mais ansiosa para encontrar minha família. Entretanto, o anúncio do piloto informou que mudaríamos a rota e pousaríamos em outra cidade.

Na nova cidade, encontrei uma amiga de longa data. Passei alguns dias na casa dela, aguardando alguém que me levasse até a casa dos meus pais. Lembro-me de me sentir acolhida e bem; no sonho, eu me via como uma adolescente. Minha amiga e sua mãe me recebiam como se o tempo nunca tivesse passado, e estávamos as duas assustadas com os eventos. Conversávamos o tempo todo sobre o que tinha acontecido, até que finalmente acordei.

O mais estranho foi rever minha amiga de tantos anos e perceber que não nos falávamos há meses. Entre trabalho, estudos e tratamentos, aquela amizade tão antiga e profunda estava em suspenso. Decidi então entrar em contato com ela para saber como estava, embora sem contar o sonho.

Enviei a mensagem no sábado à noite, e no domingo pela manhã recebi uma resposta animada. Ela disse que também estava com saudades e que, coincidentemente, havia sonhado comigo naquela semana. No sonho dela, eu ia dormir na sua casa e ainda éramos adolescentes, como nos velhos tempos!

Não acreditei. Fiquei chocada. Será que tivemos um encontro em sonhos? Liguei para minha amiga e contei o meu sonho. Ficamos perplexas. Como antes, conversamos animadamente por horas, e foi muito bom reatar o contato.

Na segunda-feira, acordei e soube da tromba d’água que atingira Valência, na Espanha. As imagens mostravam um rastro de destruição, com pessoas arrastadas pelas correntezas e bairros devastados pela chuva e pela lama. As cenas eram muito parecidas com as do meu sonho, embora o país fosse diferente. Entretanto, algo conectava aquele evento à minha amiga: ela foi casada há muitos anos com um espanhol que, com o tempo, também se tornou meu amigo. Após a separação, ele retornou à Espanha.

Fiquei gelada. Não tinha certeza se ele era da cidade afetada, mas, para minha surpresa, a cidade natal dele era próxima a Valência. A minha amiga, que na época viajava com ele para a Espanha, conhecia bem a região. Era como se tudo estivesse conectado. Não sei como, mas parecia que estávamos todos em uma comunicação remota. Mais uma vez, fiquei impressionada com as coincidências que venho experimentando.

A razão e a ciência ainda não conseguem explicar tais fenômenos, mas se ao menos déssemos uma chance para acreditar que há sinais além dos nossos sentidos, ou ouvíssemos mais nossas intuições e prestássemos atenção aos nossos sonhos, como dizia Carl Jung, a vida consciente poderia se beneficiar imensamente e ganhar um colorido único.

 

 

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