Baseado no Livro O Homem e Seus Símbolos de Carl Jung – Clube de Leitores os Pensadores

A sombra, segundo a visão de Carl Jung, representa a parte obscura e reprimida da nossa personalidade, composta por impulsos, desejos e qualidades que negamos ou desconhecemos em nós mesmos. É como se fosse uma face oculta de um iceberg, contendo aspectos que, por serem considerados socialmente inaceitáveis ou moralmente questionáveis, são relegados ao inconsciente.

Quando tentamos enxergar nossa própria sombra, nos deparamos com tendências e comportamentos que preferimos não reconhecer, como o egoísmo, a inveja, a raiva ou a preguiça. No entanto, ironicamente, essas mesmas qualidades são facilmente percebidas nos outros, através do mecanismo psicológico conhecido como projeção. A projeção ocorre quando atribuímos aos outros características que não aceitamos em nós mesmos.

Por exemplo, uma pessoa que se considera muito paciente pode projetar sua impaciência em outras pessoas, criticando-as por serem “ansiosas demais”. Ou alguém que reprime seus impulsos agressivos pode acusar os outros de serem “violentos”. Essa dinâmica da projeção é comum em nossas relações interpessoais e em contextos sociais mais amplos, como a política, onde as acusações mútuas são frequentes.

A sombra não se manifesta apenas em pensamentos e sentimentos, mas também em ações impulsivas e inconscientes. Muitas vezes, agimos de forma contrária aos nossos valores, impulsionados por forças que não conseguimos controlar. É como se a sombra, ao ser reprimida, buscasse uma saída, manifestando-se de maneira inesperada.

“A sombra não consiste apenas de omissões. Apresenta-se muitas vezes como um ato impulsivo ou inadvertido. Antes de se ter tempo para pensar, explode a observação maldosa, comete-se a má ação, a decisão errada é tomada, e confrontamo-nos com uma situação que não tencionávamos criar conscientemente.” (pg. 169)

É importante ressaltar que a sombra não é exclusivamente negativa. Ela também contém aspectos positivos que foram reprimidos por medo ou por não se encaixarem em um ideal de perfeição. Ao integrar a sombra, ou seja, ao reconhecer e aceitar esses aspectos de nós mesmos, podemos nos tornar mais completos e autênticos.

A sombra é uma parte intrínseca da psique humana que, quando negada, pode levar a conflitos internos e a relações interpessoais problemáticas. Ao compreender e integrar a sombra, podemos nos libertar de julgamentos e autocríticas, promovendo um crescimento pessoal mais profundo e significativo.

Além disso, a sombra expõe-se, muito mais do que a personalidade consciente, a contágios coletivos. O homem que está só, por exemplo, encontra-se relativamente bem; mas assim que vê “os outros” comportarem-se de maneira primitiva e maldosa começa a ter medo de o considerarem tolo se não fizer o mesmo. Entrega-se então a impulsos que na verdade não lhe pertencem.

“Quando as pessoas observam nos outros as suas próprias tendências inconscientes, estão fazendo o que chamamos “projeção”. As agitações políticas, em todos os países, estão cheias de projeções, assim como as intrigas individuais e de pequenos grupos. Projeções de toda espécie toldam a nossa visão do próximo e, destruindo a sua objetividade, destroem qualquer possibilidade de um relacionamento humano autêntico.” (pg, 172)

Se a figura da sombra contém forças vitais e positivas devemos assimilá-las na nossa experiência ativa, e não reprimi-las. Pode-se dizer que a sombra tem dois aspectos, um maléfico e outro benéfico.

Como exemplo podemos pensar no caso de uma pessoa extremamente introvertida e tímida. A sombra dessa pessoa pode conter uma forte vontade de se expressar, de ser vista e ouvida. Essa vontade de se comunicar, de se conectar com os outros, é um aspecto positivo da sombra. No entanto, o medo de julgamento e a insegurança podem ter levado essa pessoa a reprimir esse lado mais extrovertido de si mesma.

Aspecto negativo: A timidez excessiva pode levar ao isolamento social, à dificuldade em construir relacionamentos e à baixa autoestima. A pessoa pode se sentir inferior e incapaz de alcançar seus objetivos.

Aspecto positivo: A vontade de se comunicar e de se conectar com os outros pode impulsionar a pessoa a buscar novas experiências, a desenvolver suas habilidades sociais e a encontrar sua voz.

Ao reconhecer e aceitar essa vontade reprimida de se comunicar, a pessoa pode começar a trabalhar em suas inseguranças e a desenvolver sua autoestima. Gradualmente, ela pode se permitir sair da sua zona de conforto e se conectar com outras pessoas de forma mais autêntica. 

“Vai depender muito de nós mesmos a nossa sombra tornar-se nossa amiga ou inimiga.” (pg,173)

REFERÊNCIAS

JUNG, Carl G. et al. O homem e seus símbolos. HarperCollins Brasil, 2016.

Nota: Imagem foi retirada do site: www.encenasuasaude.com.br 

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