Base de referências a leitura do livro: O Homem e Seus Símbolos de Carl Jung – Clube de Leitura: Os Pensadores
No primeiro capítulo do Livro O Homem e os seus Símbolos, Jung aponta a importância de conceituar e perceber a influência direta do inconsciente em muitas das nossas atitudes, mostra-nos como o território do inconsciente é poderoso, desconhecido e infelizmente subestimado, segundo Jung o inconsciente possui influência na percepção da realidade, nas emoções e comportamentos dos indivíduos.
Para Jung, há uma constante exaltação da razão por parte do homem moderno, mas a consciência humana ainda é uma aquisição recente na nossa história, por isso frágil.
“(…) a psique do indivíduo está longe de ser seguramente unificada. Ao contrário, ameaça fragmentar-se muito facilmente sob o assalto de emoções incontidas.”(O Homem e Seus Símbolos, pg. 25)
Jung fala que devemos aceitar e analisar como o inconsciente pode influenciar a forma como percebemos o mundo ao nosso redor e como em muitos dos casos, não estamos conscientes pois somos, estimulados por uma gama de informações subliminares, (como já falamos em episódios anteriores), mas também, pelos complexos que em parte habitam o nosso inconsciente e como estes podem afetar nossas emoções, pensamentos e ações.
O que são complexos?
“Complexos — temas emocionais reprimidos capazes de provocar distúrbios psicológicos permanentes ou mesmo, em alguns casos, sintomas de neurose.” (O Homem e Seus Símbolos, pg.28) também conhecidos como Traumas psicológicos.
Origem etimológica:
- Latim complexus, entrelaçar-se, enrolar-se, abarcar, rodear, compreender.
- Que resulta da junção de vários elementos ou de várias partes. = COMPOSTO ≠ FÁCIL.
- Conjunto de coisas ligadas por um nexo comum.
- [Psicologia] Conjunto de ideias ou representações, geralmente inconscientes, que condiciona o comportamento.
(“complexo”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2024, https://dicionario.priberam.org/complexo.)
Jung nos diz que: “Os complexos habituais do indivíduo são pontos sensíveis da psique que reagem mais rapidamente aos estímulos ou perturbações externas.” (O Homem e Seus Símbolos, pg.28)
Por exemplo, para alguém que possua um complexo em relação à sua altura, qualquer comentário sobre isso poderá chateá-lo ou irritá-lo, mesmo que não seja maldoso.
E nos mostra, como os complexos podem ser estimulados, de diversas maneiras diferentes quando fala: “(…) podemos alcançar o centro diretamente de qualquer dos pontos de uma circunferência, a partir do alfabeto cirílico, de meditações sobre uma bola de cristal, de um moinho de orações dos lamaístas, de um quadro moderno ou, até mesmo, de uma conversa ocasional a respeito de qualquer banalidade.” (O Homem e Seus Símbolos, pg.28)
O interesse de Jung pelos complexos
No prefácio do Livro Complexo, Arquétipo e Símbolos, Jung relatou sobre como o tema dos Complexos despertou-lhe a atenção ao observar que durante suas experiências com a Associação de Palavras, era possível identificar afetos em seus pacientes.
*Para maior compreensão dos complexos, resolvi apoiar-me na leitura complementar do livro Complexo, Arquétipo e Símbolo Na Psicologia Junguiana da autora Jolande Jacobi, doutora em Psicologia com formação em Psicologia Analítica junto a C.G. Jung, foi docente no Instituto C.G. Jung em Zurique e pertencia ao grupo de estreitos colaboradores de Jung. Faleceu no ano de 1973 em Zurique. Prefácio de Jung.
Onde e como são formados os Complexos?
Os complexos estão depositados no inconsciente pessoal do indivíduo, sendo o seu conteúdo extremamente pessoal.
Ao contrário dos conteúdos da consciência, que controlamos, os complexos são autônomos e escapam de maneira que produzem lapsos, falhas de memória e julgamento, para Jung, “os complexos frustram a capacidade de adaptação da consciência.” (O Homem e Seus Símbolos, pg.28) e ainda, “a impede a correta adaptação do indivíduo à sua realidade interior e exterior, interdita sua capacidade de formar juízos claros e, especialmente, qualquer contato humano satisfatório.” (Complexos, Arquétipos e Símbolos, pg.27)
Definição de Complexo
Segundo Jung, o complexo possui um elemento central, portador de significado, é inconsciente e incontrolável e secundariamente há uma série de associações ligadas ao centro, originam-se em “parte da disposição pessoal (ex: personalidade mais neurótica) e em parte, das vivências do indivíduo condicionadas pelo ambiente.” (Complexos, Arquétipos e Símbolos, pg. 21)
Como exemplo podemos citar uma pessoa com Medo de Falar em Público
O tema central seria a ansiedade e constrangimento ao falar em público
Associações Pessoais: Timidez, introversão, baixa autoestima e Associações Ambientais: Críticas, humilhações, expectativas familiares elevadas.
Uma pessoa até pode ter consciência de um determinado complexo e mesmo afirmar: “tenho um complexo materno”, mas ainda assim sem saber realmente a causa, a raiz daquele complexo, dessa forma, para Jung, o complexo não será resolvido, pelo contrário, continuará a interferir e prejudicar a pessoa e Jung ainda alerta-nos “Psicologicamente, ninguém possui nada que não tenha realmente experimentado.” (Complexos, Arquétipos e Símbolos, pg. 25).
Reconhecer que existe um complexo apenas intelectualmente, não será o suficiente para resolvê-lo, mas o facto de estar consciente da sua existência, já é um caminho para o seu tratamento, pois quando inconsciente, o complexo pode enriquecer com associações, torna-se maior e acaba por assumir um caráter de automatismo que passa a interferir nos pensamentos, emoções e atitude do indivíduo.
A energia psíquica fica represada no complexo, a sua conscientização acarreta numa redistribuição dessa energia – o complexo petrifica, a sua dissolução faz fluir – resultando em um equilíbrio psíquico.
Como resolver?
“Apenas a vivência emocional liberta. Somente a esfera emocional é capaz de efetuar as necessárias reviravoltas e transformações de energia.”(Complexos, Arquétipos e Símbolos, pg. 25)
“O complexo é conhecido pela consciência, mas apenas intelectualmente e, portanto, continua a agir com sua força original. Apenas a experiência emocional do seu conteúdo, juntamente com sua compreensão e integração podem resolvê-lo.”(Complexos, Arquétipos e Símbolos, pg. 27) e segue:
“(…) nenhum complexo pode ser resolvido sem que o indivíduo se confronte com o conflito que o causa – e isto exige coragem, força psíquica e capacidade de sofrimento por parte do eu.”
Referências
Jolande Jacobi, Complexo, arquétipo e símbolo: Na psicologia de C. G. Jung (2016)
Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, 2008-2024, https://dicionario.priberam.org/complexo
[…] Muitas vezes, tais crises refletem padrões de comportamento e relacionamentos que se repetem ao longo da vida, indicando a presença de complexos inconscientes. […]