Em seu livro O Homem e Seus Símbolos, Jung nos alerta sobre a ilusão do homem moderno, que se acredita um ser inteiramente racional, mas que não olha para dentro de si. Muitas vezes, ele ignora suas atitudes “impensadas”, seus atos falhos e os sonhos que parecem não fazer sentido algum.

Somos civilizados e, portanto, achamos que não dependemos mais de mitos. Muitos dos nossos ritos de passagem ou manifestações ritualísticas parecem obsoletos, destinados a museus e antropólogos. Porém, para Jung, sempre atento à forma como o inconsciente se manifesta em nossas vidas, esse tipo de pensamento gera não apenas uma ilusão, mas uma verdadeira fragmentação de quem realmente somos.

Isto significa que a psique do indivíduo está longe de ser seguramente unificada. Ao contrário, ameaça fragmentar-se muito facilmente sob o assalto de emoções incontidas. Estes fatos, com os quais nos familiarizamos através dos estudos dos antropólogos, não são tão irrelevantes para a nossa civilização como parecem.
Também nós podemos sofrer uma dissociação e perder nossa identidade. Podemos ser dominados e perturbados por nossos humores ou tornarmo-nos insensatos e incapazes de recordar fatos importantes que nos dizem respeito e a outras pessoas, provocando a pergunta: ‘Que diabo se passa com você?’.
Pretendemos ser capazes de ‘nos controlarmos’, mas o controle de si mesmo é uma das virtudes mais raras e extraordinárias. Podemos ter a ilusão de que nos controlamos, mas um amigo facilmente poderá nos dizer coisas a nosso respeito das quais não tínhamos a menor consciência. Não resta dúvida de que, mesmo no que chamamos de ‘um alto nível de civilização’, a consciência humana ainda não alcançou um grau razoável de continuidade. Ela ainda é vulnerável e suscetível à fragmentação.” (O Homem e Seus Símbolos, p. 25)

Certamente você já viveu um episódio parecido e, de certa forma, inofensivo, como trocar o nome de alguém ou confundir-se em uma situação qualquer. Esses episódios podem ser leves ou até engraçados. No entanto, quando as palavras ou as atitudes parecem completamente fora de contexto, ou até mesmo contrárias à mensagem que se quer transmitir, os efeitos podem ser bem mais graves. Mal-entendidos, discussões e consequências negativas podem surgir de maneira inesperada, nos levando a questionar não apenas o momento, mas até a nossa própria capacidade de comunicação e controle emocional.

Jung nos alerta para os perigos da dissociação, ensinando-nos a reconhecer seus sinais e buscar formas saudáveis de lidar com as emoções, por isso, toda a sua terapia desnvolveu-se a partir da interpretação dos sonhos e da introspecção, atitudes como: 

  • Evitar comportamentos impulsivos: A dissociação pode nos levar a agir sem pensar, gerando consequências negativas. Ao estarmos mais presentes em nós mesmos, conseguimos tomar decisões mais conscientes.
  • Melhorar nossos relacionamentos: A dissociação pode dificultar a comunicação e a empatia. Ao integrarmos nossas emoções, nos conectamos com os outros de forma mais autêntica e profunda.

A dissociação está relacionada a diversos transtornos psicológicos. Ao lidarmos com ela de forma adequada, cuidamos da nossa saúde mental e prevenimos problemas mais graves.

Atualmente,  técnicas como mindfulness, respiração consciente e terapia, exploram a relação entre a despersonalização e diversos aspectos da atenção plena – como prestar atenção no momento presente, sem julgamentos, estudos sugerem que aspectos específicos da atenção plena podem ser úteis ou prejudiciais para pessoas com despersonalização, dependendo de como são praticados e compreendidos e concluíram que: Agir com consciência e aceitar (não julgar) as experiências podem ser úteis para lidar com a despersonalização

A busca pela unidade

A psicologia junguiana nos convida a buscar a unidade da psique, integrando o consciente e o inconsciente. Essa jornada de autoconhecimento nos leva a:

  • Maior autoconsciência: Ao integrarmos diferentes aspectos de nós mesmos, podemos nos conhecer melhor e tomar decisões mais alinhadas com nossos valores e objetivos.
  • Maior autonomia: Superando a dissociação e tomando as rédeas da nossa vida, nos tornamos mais autônomos e capazes de lidar com os desafios da vida.
  • Maior realização pessoal: A integração da psique nos permite alcançar nosso pleno potencial e viver uma vida mais plena e significativa.

Sob a perspectiva junguiana, vivemos sob a constante ameaça de fragmentar nossa consciência ao negligenciarmos as pistas que o inconsciente nos revela. Jung nos convida a olhar para dentro e buscar a unidade de quem realmente somos.

 

Fonte:

O Homem e Seus Símbolos – Carl Jung

Levin, K. K., Gornish, A., & Quigley, L. (2022). Mindfulness and Depersonalization: a Nuanced Relationship. Mindfulness13(6), 1479–1489. https://doi.org/10.1007/s12671-022-01890-y

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