Durante a minha jornada com o Câncer de Mama e mais tarde em conversa com muitas mulheres, pude perceber que o medo é um tema recorrente e que há vários tipos diferentes, surgem em momentos distintos. Pensar sobre isso e saber que não estava sozinha nem que era uma fraqueza minha, foi muito libertador e me auxiliou na forma como encarava cada um desses medos, na medida em que apareciam.
Enfrentar um diagnóstico de câncer de mama é um dos momentos mais desafiadores que uma mulher pode viver. Não é só o corpo que sente o impacto; o emocional, o psicológico e até o espiritual são profundamente afetados. Compreender e dar voz a esses medos é o primeiro passo para acolher a nossa própria vulnerabilidade e, assim, ganhar forças para lidar com os desafios de cada etapa.
Hoje, quero falar sobre os cinco principais medos que muitas mulheres enfrentam ao receber esse diagnóstico, na esperança de que, ao colocá-los em palavras, possamos juntos desmistificar o que, por vezes, é vivido em silêncio. Porque acredito na importância de expressarmos nossas dores e angústias e de confiar nas pessoas que nos rodeiam e nos profissionais de saúde.
1. Medo do Diagnóstico
O primeiro grande medo surge no momento do diagnóstico. Receber a notícia de um câncer é um choque, e para muitas mulheres, é como se o chão desaparecesse sob seus pés. Esse medo está relacionado à incerteza sobre o futuro, à sensação de que a vida foi interrompida.
Para lidar com esse medo, é fundamental buscar informações. Quanto mais entendemos sobre o câncer de mama e suas possibilidades de tratamento, mais nos sentimos capacitadas para enfrentá-lo. Além disso, buscar apoio em familiares, amigos e grupos de apoio pode ser uma maneira de se sentir amparada e menos sozinha nessa jornada.
2. Medo do Tratamento
A perspectiva do tratamento, seja ele cirurgia, quimioterapia, radioterapia ou outros procedimentos, desperta medos relacionados à dor, aos efeitos colaterais e às mudanças físicas. A queda de cabelo, a perda de peso ou o cansaço extremo são preocupações que afetam diretamente a autoestima e a sensação de feminilidade.
Antes de iniciar de fato o tratamento, há um tempo de espera em que temos que realizar uma bateria de exames, esse tempo também é muito angustiante o que torna o medo ainda maior, o medo do desconhecido.
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É importante lembrar que cada corpo reage de forma diferente e que há profissionais e tecnologias que podem ajudar a aliviar muitos desses efeitos. Conversar com o oncologista sobre as dúvidas e buscar alternativas para minimizar desconfortos pode tornar o processo menos temido. Além disso, cuidar da autoestima com pequenas práticas de autocuidado, como escolher um lenço bonito ou usar uma maquiagem leve, ajuda a manter a confiança.
3. Medo da Recorrência
Mesmo após o tratamento, o medo de que o câncer possa voltar permanece na mente de muitas mulheres. Esse receio pode se manifestar como uma ansiedade constante, especialmente durante exames de acompanhamento. A possibilidade de uma recidiva do câncer pode gerar uma sensação de fragilidade e insegurança, como se o corpo estivesse sob ameaça constante.
A melhor forma de lidar com esse medo é adotar práticas de autocuidado e prevenção, como manter uma alimentação saudável, praticar atividades físicas e seguir as orientações médicas para os exames de controle. Saber que estamos fazendo o possível para cuidar de nós mesmas é uma maneira de reconquistar o controle sobre a própria saúde.
Aqui também vale aquela máxima de que quase todo o doente oncológico ouviu falar de que é preciso viver um dia de cada vez.
4. Medo das Mudanças na Vida Pessoal e Profissional
O câncer de mama não afeta apenas a saúde, mas também impacta a rotina, as relações e até o trabalho. Muitas mulheres temem que suas relações familiares e de amizade mudem ou que seu emprego seja prejudicado. A sensação de vulnerabilidade faz com que seja difícil conciliar o papel de paciente com o de mãe, esposa, amiga ou profissional.
O medo de não ser amada é real, de ser julgada como doente e incapaz traz consigo uma baixa na autoestima e é aqui que muitas mulheres preferem se isolarem.
Aqui, a comunicação é uma aliada poderosa. Conversar abertamente com familiares, amigos e colegas de trabalho sobre as limitações e necessidades durante o tratamento ajuda a criar uma rede de suporte e compreensão. Saber que não precisamos enfrentar tudo sozinhas e que podemos contar com pessoas ao nosso redor é essencial para o bem-estar emocional.
5. Medo de Não Ser Mais a Mesma Pessoa
Por fim, muitas de nós mulheres sentimos que estamos muito diferentes, as mudanças físicas e emocionais, somadas à intensidade do processo, podem levar a uma sensação de perda de identidade. Esse medo de “não ser mais a mesma” está relacionado à busca por um novo sentido de normalidade, especialmente após um tratamento tão transformador.
O caminho para lidar com esse medo envolve o autoconhecimento e a aceitação das novas versões de si mesma. Permitir-se redescobrir interesses, buscar novas atividades e valorizar o aprendizado que a jornada trouxe pode ser um ponto de partida para reconstruir a autoestima e o bem-estar emocional. Esse processo de “renascimento” muitas vezes leva a uma versão ainda mais forte e resiliente.
Conclusão: Acolher os Medos e Seguir em Frente
Falar sobre esses medos é essencial para desmistificar o que muitas mulheres sentem, mas raramente expressam. Aceitar que o medo faz parte do processo e que não há nada de errado em sentir receio é um passo importante para acolher a própria vulnerabilidade. A partir do momento em que reconhecemos nossos medos, temos a oportunidade de buscar maneiras de lidar com eles e, assim, construir uma jornada mais leve e plena.
Que todas nós possamos encontrar forças, uma rede de apoio e uma conexão com profissionais de saúde que nos ajudem a enfrentar os desafios. E, acima de tudo, que possamos entender que somos muito mais do que a nossa doença – somos mulheres fortes, capazes de enfrentar qualquer obstáculo e de renascer quantas vezes forem necessárias.